segunda-feira, 9 de maio de 2011

Esse ofício do verso


Essa primeira citação abraça a resistência contra uma catalogação linear sobre o estudo e o entendimento da literatura. De certa forma, é de convir a opinião de Borges ao se referir a esse tipo de coragem: abandonar a história. A história, de certo modo, serve-nos como método guia e como recurso de identificador de um contexto especifico. Ora, o ensino de literatura em seu modelo tradicional escolar, é estritamente pautado na formação social e nacional. Ou seja, baseia-se num entendimento histórico das expressões literárias.

 “Ter consciência da história da literatura - ou de qualquer outra arte, nesse particular - é realmente uma forma de incredulidade, uma forma de ceticismo. Se digo comigo, por exemplo, que Wordsworth e Verlaine foram poetas muito bons do século XIX, talvez caia no perigo de pensar que o tempo de algum modo os destruiu, que não são tão bons agora como antes. Acho que a idéia antiga - que podemos conceder perfeição à arte sem levar em conta as datas - era muito corajosa.
[…] Os autores (ingleses, alemães, franceses, americanos etc.) sempre se admiram com o fato de que, na Índia, as pessoas não têm senso histórico - que tratam todos os pensadores como se fossem contemporâneos. Traduzem as palavras da filosofia antiga para o jargão moderno da filosofia atual. Mas isso simboliza algo corajoso. Simboliza a idéia de que se acredita na filosofia ou que se acredita na poesia - que as coisas outrora belas podem continuar sendo belas.”

Bom seria ler e interpretar cegamente. 

“As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar. O leitor, se for rápido o suficiente, pode ficar satisfeito com nossa mera alusão a algo.”

“Acho que um dos pecados da literatura moderna é ser muito autoconsciente”

A autoconsciência na literatura (não diria moderna, mas contemporânea) é recorrente. A poesia tornou-se arquitetura do poema, a ficção uma auto- em que narradores sapientes da construção narrativa confundem positivamente realidade e criação, verossimilhança e representação.

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