sábado, 6 de setembro de 2014

tudo que tem mera pretensão de arte, é artifício.

Preparando materiais para aulas de literatura, tive um insight e não quis deixar de registrar o pensamento... Pareceu-me tão óbvio e ao mesmo tempo tão inovador notar que:
a critica sempre defende a arte pela arte, a arte com um fim em si mesma, a forma da arte, a estética...

quando na verdade, todas as obras obras literárias de maior qualidade, aquelas que você carregaria debaixo do braço (como se fosse um abraço), são obras que exprimem alguma espécie de verdade, de beleza em seu conteúdo... ora, não são assim consideradas apenas pela sua forma, mas pela sua existência necessária à sociedade
numa transformação do que se diz, pela linguagem, pela moral...
... mas nunca - repito, nunca! - pela arte!

tudo que tem mera pretensão de arte, é artifício.

domingo, 29 de junho de 2014

Disney Adventures in Bossa Nova

Aqui vai uma super dica para quem quer ouvir bom som e ser feliz


Esse disco é um dos meus maiores prazeres na hora do trabalho. Por dois motivos: primeiro, são regravações de algumas das músicas clássicas dos filmes da disney e, segundo, são versões em estilo bossa nova. Ficou mais óbvio, ou a capinha do cd já dizia tudo? 

A coleção "Adventures In..." traz outras seleções em diferentes estilos musicais, jazz, samba, country, reggae... Mas essa é, sem dúvida, a minha favorita. Tem "Cruela Cruel" (101 dálmatas), "Somente o necessário" (Mogli), "Supercalifragilistticexpialodoso" (Mary poppins), além de  "Ciclo sem fim" (Rei Leão) na voz do Edu Lobo. 

Maaaaaas, acho que todo o amor que eu sinto ao ouvir as músicas está essencialmente no ritmo, o que a bossa nova ofereceu para minha memória afetiva e as novas sensações que obtive ao ouvi-las nesse sambinha de breque que parece sempre improvisar e levar a letra de maneira leve e descompromissada... 

As crianças adoram. As crianças adultas também. E os adultos, que não sabem ser criança, dizem que não... mas adoram muito mais e dão de presente para os filhos.

AQUI dá pra ouvir uma mostra do cd completo. E no youtube tem várias playlists, é só pesquisar e conferir.

sábado, 17 de maio de 2014

Caderno de um Ausente



"tu descobrirás, filha, que sonhar nos salva da rotina, mas, também, nos desliga da única coisa que nos mantém em vigília: o muro concreto do presente.______ Sim, estou ótimo pra alguém da minha idade, ao menos é como me sinto, quero permanecer ainda um tempo por aqui, mas, preciso te dizer, filha, sei bem distinguir quando aquilo que capto, na configuração das nuvens, é apenas uma suspeita ou um fato a caminho, ineludível, aprendi a ler o que está escrito nas altas esferas, e também no rodapé da nossa rotina" 




Escolher um livro de leitura rápida para resenhar e publicar no blog - minha missão cumprida. Passando pela livraria, a opção mais óbvia foi o livro do João Anzanello Carrascoza. Julgando-o pela aparência, realmente um livro pequeno, e bonito. 

O design, como sempre, é o forte das edições da Cosac Naify. A capa simula uma espécie de caderno cujas "linhas" são lacunas, espaçamentos sem nada escrito, à espera de completude. Ou, poderia simular também, o apagamento de algo que estava escrito, como se as mesmas linhas fossem, na verdade, marcas de correção, manchas brancas sobre as letras. 

Nessa perspectiva semiótica em que o objeto livro comunica por meio de sua plasticidade o tema da ausência já existente no título, as prévias indagações sobre o "Caderno de um ausente" foram substituídas, rapidamente, pelo virar das páginas.

O texto é fortemente lírico, pois carrega a emotividade de um pai que, de maneira confessional, transfere sua angústia para as letras e as direciona a sua filha recém nascida, Bia. 

O tom epistolar mescla a voz memoriosa com o medo da não proximidade futura entre pai e filha, já que diferença de idade entre ambos é grande.

As lembranças familiares que o pai traz são como recortes fotográficos, e assim são descritas e mencionadas, na medida em que ele, eu-lírico, cita as imagens que registram os traços de parentescos, trazendo para a sua escrita em prosa a identidade que objetiva projetar para Bia.

Este não é um livro de inicio, meio e fim. A história que absorvemos está implícita na delicadeza das impressões de um pai, do sentimento de amor e insuficiência que ele demonstra, tanto pela ausência futura de sua paternidade, quanto pelo silêncio que veste nesses momentos em que não sabe ao certo o que dizer. 

No fundo desse livro, não há mensagem nenhuma que seja mais importante do que toda a sensibilidade que o pai transfere para suas palavras, e é essa a grande lição que ele pretende transmitir para Bia: impressões sensíveis; o sentir dos momentos, do mundo, além da ausência e da saudade sem convívio.

"eu ia te ensinar, Bia, por que, subitamente, a linguagem frutifica, vazando primavera por todos os poros, por que é mais digno se molhar no sangue do presente do que no pó dourado do passado, ______eu ia te ensinar por que de não em não o tempo se sacia de nós, o tempo nos nega os desejos e nos avilta os sonhos, por que não existe a terra prometida senão em nós, e porque ela está cercada de continentes barrentos e istmos movediços"

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ron Mueck

Estive presente na exposição de Ron Mueck e fiquei abismada com a minúcia de detalhes e a precisão de seus trabalhos. É o que podemos chamar de um hiperrealismo, tanto pela técnica quanto pela brincadeira com a palavra hiper, no sentido de que algumas obras tem grandes proporções e contagiam os nossos olhares para cada mínima perfeição de traços, rostos, peles, pelos... As esculturas desse artista são projeções indefectíveis de seres humanos e animais, feitos de resina, fibra de vibro, silicone e acrílico.