domingo, 28 de julho de 2013

RJ 2013 me remete a um livro do Orwell

Os últimos grandes acontecimentos da cidade me remetem ao livro "Revolução dos Bichos". Tanto a narrativa literária, quanto os fatos demonstram o quanto o povo não pensa por si mesmo

Resumo da história de Orwell:

Em uma fazenda da Inglaterra (Granja Solar), os animais trabalham exaustivamente e por não se sentirem recompensados, sonham com uma grande revolução que defenda a auto-governabilidade e a igualdade entre os animais. Quando o dono da fazenda se descuida da alimentação dos bichos, os animais se libertam e se apropriam da fazenda, instaurando uma nova ordem que preza pelo sistema cooperativista. A sonhada revolução acontece... e várias "regrinhas" são criadas, como por exemplo: qualquer coisa que ande sobre duas perna é inimigo e qualquer coisa que ande sobre quatro pernas (ou tenha asa) é amigo... Mas as consequências dessa nova ordem não são como foram idealizadas...

Há três suínos importantes nessa história:
Major é o porco mais velho, responsável por reunir os animais todos e incitar os princípios originais da revolução. 
Bola-de-Neve é aquele que tem a ideia de construir um moinho de vento, visando a prosperidade da Granja Solar e a melhoria da qualidade de vida de todos os bichos,  mas que, no entanto, desaparece durante a narrativa.
O terceiro é Napoleão, eleito líder dos animais, sendo o porco que se apropria da ideia do moinho de vento e traz informações acusatórias e críticas contra a imaginação e o idealismo de Bola-de-Neve.
Na história de Orwell os porcos são considerados os animais mais inteligentes e passam a usufruir de alguns privilégios que acabam desestruturando o regime de igualdade proposto inicialmente. É a partir de então que uma nova forma de opressão ocorre na Granja Solar, e a estratificação social entre os bichos se instala: alguns dos animais que eram oprimidos tornam-se os opressores da vez.


 {Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros}. 

Ok. Mas e aí, Mariana? O que isso tem a ver com o Rio 2013?
Ora, se pela alegoria tu ainda não entendestes, eu te digo mais algumas coisinhas:
Primeiro, o livro foi escrito em 1945 e é uma sátira à ditadura stalinista, como uma espécie de retrato análogo e nada sutil das situações que ocorriam na União Soviética, tais como: assassinatos sem explicação, exílios e a distorção da memória histórica... Dessa forma, Stálin = porco Napoleão e Trotski = porco Bola-de-Neve.
Eu mesma não entendo muito de história geral e tive que pesquisar a respeito quando li o livro há muito tempo atrás, mas abre parênteses: não são necessários esses dados históricos para entender a narrativa, tá?, fecha parênteses. 

Segunda informação: o livro segue como uma eterna releitura do mundo, pois essa narrativa sempre se demonstra atual e pode ser compreendida em qualquer sociedade como uma produção metafórica e crítica a respeito dos mecanismos de poder que, de alguma forma, trazem a tirania e a dissipação dos ideais de igualdade.

Logo,
o que ocorre no Rio de Janeiro (e nos demais estados brasileiros também) é uma sede de revolução daqueles que estão cansados da exploração. Essa sede reforça a visão pessimista sobre a política atual (ou politicagem - para soar mais negativamente). Os cidadãos estão exaustos dessa submissão a um poder que não nos representa (governo, prefeitura, presidência e por aí vai...) Alguns de nós, os políticos, tomam posse de cargos em nosso nome, mas ao se apropriarem desse poder adquirem mais privilégios e se toram "mais iguais" que nós, os outros. E aí transforam, a sua maneira, as "regrinhas" estabelecidas, fazendo acordos com empresários e instaurando modificações na sociedade de maneira arbitrária em defesa de interesses próprios.

Quase na mesma medida e a respeito da manifestação contra o aumento da passagem dos transportes públicos, o movimento "revolucionário" que era apartidário, que prezava pela igualdade de todos a partir dessa causa comum (os R$0,20), tornou-se alvo de novas formas de opressão: 
a tirania dos que tentam exilar as bandeiras partidárias; 
os movimentos políticos que insistem em organizar a manifestação com base em ideologias próprias e de oposição ao governo, desqualificando o povo / a massa / o Brasil que acordou; 
e a opressão também dos já identificados como autoritários que, por tradição, defendem os direitos apenas da elite e excluem os cidadãos que fazem parte do que chamo de povo, considerando-os os menos iguais.

Nesse meio tempo, assistimos vááááááárias formas de manipulação que funcionam tal qual os slogans repetitivos pelas ovelhas da história de Orwell. Isto é, discursos e mais discursos são mediados (sobretudo pela TV: Arnaldo Jabor + discurso do Pelé) e repetidos incansavelmente. Parte do povo, da classe trabalhadora e não escolarizada, não sabe o que está nas entrelinhas desses discursos... e continua vendendo cerveja no meio do evento, porque identifica aí mais uma oportunidade de tirar um dinheirinho para o seu sustento.
OPS! Ao invés de "evento", eu quis dizer manifestação contra o aumento da passagem... que... PERA LÁ, mas não já diminuiu??? Er... mas a massa vai à rua assim mesmo reivindicar... o que mesmo? Ah tá: #corrupção #sem-violência #vemprarua

E agora... Sacou? Então repete comigo: sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...zzzzzzzzzzzz..
MÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ...
OBSERVAÇÃO: esse texto foi escrito em junho, após presentar minha roommate com um exemplar da obra, editado pela Cia das Letras. Ao converter o rascunho, decidi publicá-lo na data de hoje mesmo, pois no contexto atual do RJ 2013 eu acrescentaria também os eventos da JMJ (= mais uma lavagem cerebral, mais uma forma de tirania hipócrita)
Não aguento mais músicas religiosas repetidas inúmeras vezes como se fossem hino de torcida, ainda que na repetição os cantantes alterem o ritmo para o funk... Além do mais, a cidade está parada em função do evento, impedido a circulação das pessoas por diversas áreas. Praticamente obrigando os transeuntes a se depararem com o Papa. E tem mais: é feriado, mas a livreira aqui trabalha e precisa chegar na hora...  Se liga, minha gente!
IDE E FAZEI DISCÍPULOS ENTRE TODAS AS NAÇÕES
o Papa é BOPE!?

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