quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fernando Pessoa, para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa.

Li em zilhões de lugares sobre os 125 anos incompletos do poeta, mas também foram apenas constatações.

Fernando Antonio Nogueira Pessoa, eternizado pela sua própria obra, nasceu lááá em Lisboa, no ano de 1888 (cem anos antes de mim!). Tornou-se um poeta do mundo, daqueles que chamamos "universal".
Nos textos dele é forte a temática lusitana, mas o nosso poeta tem sobrenome "Pessoa" e talvez por isso, por essa relação metonímica (indivíduo - mundo), ele adquiriu uma grande poética.
É autor de uma peculiar complexidade criativa na arte verbal, confirmada pela variedade de heterônimos estéticos literários, cujas personalidades surgem representativas dos desdobramentos de um "eu" (várias pessoas no Pessoa), num trabalho de ficção de identidades.

Os versos que por vezes são concisos, dissipam um alargamento filosófico. A consciência poética de Fernando Pessoa abraça seu pensamento reflexivo, apontando já alguns sintomas e crises da Modernidade, pois ele mesmo inscreve-se existencialmente numa nova forma de criação literária, num processo que marca a Poesia como "antes" e "depois" de Fernando Pessoa. O cara é o grande poeta do século XX.

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
    Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
    Por isso se nos não mostrou...Sejamos simples e calmos,
    Como os regatos e as árvores,
    E Deus amar-nos-á fazendo de nós
    Belos como as árvores e os regatos,
    E dar-nos-á verdor na sua primavera,
    E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

       Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos.
O desassossego e o saudosismo, duas essências da temática modernista, trouxeram nitidamente a subjetividade de múltiplos Fernandos, sujeitos biográficos, de identidades próprias e que não se confundem. A pluralidade dignifica as várias formas de vivenciar e expressar a realidade, representando interiores do poeta (e não apenas dele, os nossos)...
São os desejos de conhecer o mundo, o ser, os homens, as Pessoas.
    Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
    Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
    Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
    Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
    Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
    Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

    Seja o que for, era melhor não ter nascido,
    Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
    A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
    A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
    Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
    E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
    Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
    E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
    Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

    Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
    É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
    Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
    Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
    Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

    Trecho de Passagem das Horas, Álvaro de Campos

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