domingo, 11 de setembro de 2011

Resenha: Avalovara, de Osman Lins

Osman Lins é autor de várias obras importantes para a Literatura Brasileira. Dentre elas, o romance Avalovara (1973) se destaca pela engenharia literária elaborada sobre uma espiral e um quadrado, traçados com base no palíndromo sator arepo tenet opera rotas. Numa analogia referente a própria construção narrativa, qualquer que seja o percurso de leitura o sentido da obra é o mesmo.

    

A história diz respeito a Abel, um homem que quer se tornar escritor e ao longo de sua trajetória se envolve com três mulheres: Annelise Ross, Cecília e uma terceira, representada apenas por um símbolo. Numa reciprocidade, os personagens atravessam uma rede complexa de questionamentos sobre liberdade, amor, tempo, entre outros temas que surgem numa sempre referência às oito pequenas narrativas que formam o romance, narrativas que descrevem uma órbita de reflexões sobre o mundo, entre aquilo que é humano ou divino, físico ou metafísico, cujo centro é Abel.

O experimentalismo formal da estrutura narrativa dá passagem da representação do plano psicológico para a exploração da linguagem no fluxo da prosa literária, de modo que a organização do romance revela-se como um recurso de Osman Lins para estabelecer uma relação narratária entre espaço e tempo que vai além da mera representação do real, pois define-se como uma simbologia para os questionamentos existenciais e a busca de uma identidade ou de uma resposta para Abel.
Essa relação narratária, entretanto, demonstra uma trajetória que só traz mais dúvidas e desterro (linguístico, espacial, temporal e sentimental) ao protagonista, ao invés de uma possível auto-compreensão de suas relações e das relações humanas de maneira geral.


O trajeto de Abel que se inicia de Pernambuco à Europa, finda-se em São Paulo, onde ele encontra a plenitude e o êxtase do amor e da criação.

 Trecho de Avalovara, N2, pag. 354
Transitamos entre nós, vamos de mim a mim eu eu nós eu eu de mim a mim, laço e oito, boca e boca, transitamos e somos, a esfera circunscreve-nos e nós próprios uma esfera, boca e boca (de quem?) coxas braços joelhos bunda orelhas (de quem?) membro garganta bainhas rorantes o prazer formando-se os culhões acesos cabeleiras ais. Relâmpagos arabescos convulsos lento rolar dos trovões estrondos dos trovões carradas de pedrouços entornados sobre lastro de madeira uma explosão atira-os para o ar a sala treme cintilam cristais lustres vidros caixilhos moldura nuvens de chuva açoitadas edifícios pára-raios antenas de TV.
Descrição presente na parte posterior da 5ªed:
Poema? Romance? Ensaio ficcional? Fábula metalingüística? Publicada em 1973, a obra máxima do pernambucano Osman Lins continua a instigar novos leitores. Livro único, que desafia os gêneros, Avalovara é, antes de mais nada, um mergulho vertiginoso no cerne da linguagem: lá onde os nomes fecundam-se mutuamente à espera de realidades que ainda não nasceram. Com habilidade magistral, que modula cada frase, cada som, Osman Lins intercala oito temas narrativos que atravessam tempos e espaços distintos, saltando de Amsterdam a Recife, de Recife à Roma Antiga, daí a São Paulo e vice-versa, formando um esplêndido conjunto, no qual o próprio livro, em sua concepção, tratamento e estrutura, torna-se uma imagem de totalidade, uma cosmogonia.

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