sábado, 20 de agosto de 2011

Há muitas coisas bonitas que Renoir não enxergou

 
(Situação:) Belém, 15 minutos de atraso, CineEstação, amigos. 
(Cinegrafia:) Estrangeiros, línguas, legendas fragmentadas. O papel da Europa no século XXI. Questões políticas e culturais... (Objeção:) "É possível gostar de algo sem que possamos entendê-lo?".
Talvez aceitá-lo não conceitualmente, mas a partir de si mesmo, da forma como se mostra. Foi assim com Film Socialisme 
do Godard... “Coisas Como”, “Nossa Europa” e “Nossas Humanidades”. Tudo desorganizado em sua ordem. O que Godard quer me dizer?
Saí do cinema refletindo e numa frase impactante, penso: o verbo não é imagem. Mas qual é esse verdadeiro impacto? E que frase doida é essa, Mariana?
 Resultado de uma experiência em que as palavras são mínimas significações, em que a imagem se sobressai e se revela como pintura fotográfica e pronto. As palavras são "dizeres sobre" enquanto a imagem por si só já é o registro e assim se registra como.


Godard no fundo mostrou o poder do cinema, fazendo cinema.  Câmera mirando câmera. O diafragma, que é o olho, se fecha, capta... O poder da mais ínfima qualidade de imagem e da mais alta cor:
O cinema - ou a arte - permanece como a possibilidade de resistência última do sujeito, mesmo que este sujeito nos chegue aos cacos, aos estilhaços de quem imprime um mundo a voar diante dos olhos (ou, como um filme-pensamento, dentro da cabeça). A tela é uma só. O filme (no singular) é o último socialismo (no sentido político corriqueiro, mas também no "social" que lhe é radical) possível: o último momento de fé, de uma anulação silenciosa e ritualística no coletivo, mas ao mesmo tempo de um magnetismo absolutamente ativo entre dois olhares: a pessoa que olha pra tela e a tela que olha de volta. Godard, autocrítico de vocação, firma em Film Socialisme um pacto no qual os aforismos e os fragmentos categóricos se sabem apenas um possível começo de conversas. E, das conversas, algo de gigantesco pode surgir.
(fonte: http://www.revistacinetica.com.br/filmsocialisme.htm


Obs: rever esse filme vinte vezes.

3 comentários:

Juliana Maués disse...

"As imagens são formas que caminham em direção à palavra". (Godard)
Coincidência ou não, li isso sábado pouco antes de ler o teu texto aqui. Ah, não vi Film Socialisme =/

Mariana disse...

Égua, essa frase diz melhor o que penso. E esse é o verdadeiro impacto!

Anônimo disse...

Esse teu texto me fez gostar mais do filme (e até do Godard).

Espero que eu e ele nos entendamos eventualmente.

Felipe