(Situação:) Belém, 15 minutos de atraso, CineEstação, amigos. (Cinegrafia:) Estrangeiros, línguas, legendas fragmentadas. O papel da Europa no século XXI. Questões políticas e culturais... (Objeção:) "É possível gostar de algo sem que possamos entendê-lo?".
Talvez aceitá-lo não conceitualmente, mas a partir de si mesmo, da forma como se mostra. Foi assim com Film Socialisme do Godard... “Coisas Como”, “Nossa Europa” e “Nossas Humanidades”. Tudo desorganizado em sua ordem. O que Godard quer me dizer?
Saí do cinema refletindo e numa frase impactante, penso: o verbo não é imagem. Mas qual é esse verdadeiro impacto? E que frase doida é essa, Mariana? Resultado de uma experiência em que as palavras são mínimas significações, em que a imagem se sobressai e se revela como pintura fotográfica e pronto. As palavras são "dizeres sobre" enquanto a imagem por si só já é o registro e assim se registra como.
Godard no fundo mostrou o poder do cinema, fazendo cinema. Câmera mirando câmera. O diafragma, que é o olho, se fecha, capta... O poder da mais ínfima qualidade de imagem e da mais alta cor:
O cinema - ou a arte - permanece como a possibilidade de resistência última do sujeito, mesmo que este sujeito nos chegue aos cacos, aos estilhaços de quem imprime um mundo a voar diante dos olhos (ou, como um filme-pensamento, dentro da cabeça). A tela é uma só. O filme (no singular) é o último socialismo (no sentido político corriqueiro, mas também no "social" que lhe é radical) possível: o último momento de fé, de uma anulação silenciosa e ritualística no coletivo, mas ao mesmo tempo de um magnetismo absolutamente ativo entre dois olhares: a pessoa que olha pra tela e a tela que olha de volta. Godard, autocrítico de vocação, firma em Film Socialisme um pacto no qual os aforismos e os fragmentos categóricos se sabem apenas um possível começo de conversas. E, das conversas, algo de gigantesco pode surgir.(fonte: http://www.revistacinetica.com.br/filmsocialisme.htm)
Obs: rever esse filme vinte vezes.
3 comentários:
"As imagens são formas que caminham em direção à palavra". (Godard)
Coincidência ou não, li isso sábado pouco antes de ler o teu texto aqui. Ah, não vi Film Socialisme =/
Égua, essa frase diz melhor o que penso. E esse é o verdadeiro impacto!
Esse teu texto me fez gostar mais do filme (e até do Godard).
Espero que eu e ele nos entendamos eventualmente.
Felipe
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