domingo, 16 de junho de 2013

15° salão FNLIJ

Acabou  hoje. As fotos são do único dia em que estive presente, no quarto dia de seminário. O tema era "a arte de ilustrar para crianças no Brasil e no mundo".


Eu adoro essa reflexão sobre ilustração, ainda mais quando estiveram presentes nomes importantes como Nelson Cruz, Rui de Oliveira, Ciça Fittipaldi, Odiolon Moraes (!!!), Roger Mello e também os colombianos Ivar da Coll, Rafael Yockteng, Dipacho, Olga Cuéllar e Claudia Rueda, etc etc etc. Saldo bem positivo. Os debates foram interessantes, não foram profundos em complexidade, mas profundos pela amplitude e relevância dada a questão da ilustração dos livros, verdadeiras obras de arte.




Em relação aos estandes: muito amor para a CosacNaify, que estava com 40% de desconto em todos os livros.


Cada participante ganhou um livro.  Recebi o exemplar de Grande Sertão Veredas, da ed. Nova Fronteira, coleção Biblioteca do Estudante!


Lista com os vencedores deste ano (produção de 2012), aqui !

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fernando Pessoa, para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa.

Li em zilhões de lugares sobre os 125 anos incompletos do poeta, mas também foram apenas constatações.

Fernando Antonio Nogueira Pessoa, eternizado pela sua própria obra, nasceu lááá em Lisboa, no ano de 1888 (cem anos antes de mim!). Tornou-se um poeta do mundo, daqueles que chamamos "universal".
Nos textos dele é forte a temática lusitana, mas o nosso poeta tem sobrenome "Pessoa" e talvez por isso, por essa relação metonímica (indivíduo - mundo), ele adquiriu uma grande poética.
É autor de uma peculiar complexidade criativa na arte verbal, confirmada pela variedade de heterônimos estéticos literários, cujas personalidades surgem representativas dos desdobramentos de um "eu" (várias pessoas no Pessoa), num trabalho de ficção de identidades.

Os versos que por vezes são concisos, dissipam um alargamento filosófico. A consciência poética de Fernando Pessoa abraça seu pensamento reflexivo, apontando já alguns sintomas e crises da Modernidade, pois ele mesmo inscreve-se existencialmente numa nova forma de criação literária, num processo que marca a Poesia como "antes" e "depois" de Fernando Pessoa. O cara é o grande poeta do século XX.

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
    Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
    Por isso se nos não mostrou...Sejamos simples e calmos,
    Como os regatos e as árvores,
    E Deus amar-nos-á fazendo de nós
    Belos como as árvores e os regatos,
    E dar-nos-á verdor na sua primavera,
    E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

       Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos.
O desassossego e o saudosismo, duas essências da temática modernista, trouxeram nitidamente a subjetividade de múltiplos Fernandos, sujeitos biográficos, de identidades próprias e que não se confundem. A pluralidade dignifica as várias formas de vivenciar e expressar a realidade, representando interiores do poeta (e não apenas dele, os nossos)...
São os desejos de conhecer o mundo, o ser, os homens, as Pessoas.
    Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
    Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
    Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
    Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
    Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
    Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

    Seja o que for, era melhor não ter nascido,
    Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
    A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
    A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
    Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
    E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
    Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
    E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
    Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

    Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
    É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
    Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
    Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
    Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

    Trecho de Passagem das Horas, Álvaro de Campos

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Dicionários poéticos

 "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças" (1999) é um dicionário beeeeeemmm diferente. O autor recolheu várias definições  e significados atribuídos por crianças, quando ele (Javier Naranjo) era professor da educação infantil, lá na Colombia! Palavras que comumente utilizamos foram reprojetadas de maneira poética e com a sabedoria da inocência no uso das palavras. Um exercício de explicar o inexplicável óbvio, pelo não tão óbvio explicável, tudo com muitas simplicidade.
A reedição do livro fez sucesso na Feira Internacional do Livro de Bogotá no mês de abril, e aqui no Brasil,  foi amplamente divulgado nas redes sociais, em links de blogs e noticiários da internet e também na Tv (no dia 02 de junho o programa Fantástico exibiu uma matéria).
Pesquisando sobre os bafafás do livro, li que a ideia inicial do livro surgiu quando ele pediu aos seus alunos que elaborassem, em comemoração ao dia das crianças, uma definição sobre o que é "criança". A partir daí ele desembocou nesse projeto e manteve as ideias essenciais das definições que coletou, corrigindo apenas a ortografia e a pontuação dos textos, sem alterar a lógica infantil inerente às formas e construções gramaticais peculiares às explicações dadas pelas crianças.
O resultado é mais ou menos esse aqui:
Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)
Quando ouvi o burburinho nas redes sociais sobre o livro do Naranjo lembrei logo de outro livro: "Mania de Explicação".

    



 Da autora Adriana Falcão e com ilustração de Mariana Massarani, esse livro propõe dar definições tão sabedoras e saborosas quanto o livro do colombiano, seguindo essa lógica infantil diferente, que entende o mundo de outra forma e faz associações mais simples e diretas com as palavras, sem rebuscamento. A alegoria infantil está representada no vocabulário, na organização da frase e também nos desenhos de traçado mais rabiscado e cores vivas, lembrando as linguagens da infância - típico da Massarani. 
Super indicado para crianças a partir de 5 ou 6 anos de idade, e também para os adultos, claro.


Ver também:



A: Primeira letra do alfabeto que também é a primeira letra da palavra amor e se sente importantíssimo por isso.
Belo: é tudo que faz os olhos pensarem ser coração
Escuridão: é o resto da noite, se alguém recortar as estrelas
Idade: aquilo que você tem certeza que vai ganhar de aniversário, queira ou não queira
Janeiro: Primeira oportunidade do ano se mostrar simpático.
Óbvio: não precisa explicar
Segredo: aquilo que você está louco para contar
Sexo: quando o beijo é maior do que a boca
Vazio: um termo injusto com a palavra nada

sábado, 1 de junho de 2013

Revista Crescer

Aproveitando o ensejo do texto anterior, quero linkar a seguinte dica para as pessoas que se interessam por livros infantis.

Há oito benditos anos, a Revista Crescer, da Editora Globo, seleciona 30 livros bacanas, que se destacam pela qualidade do texto escrito, pelas ilustrações e também pelo conteúdo que abordam. A ideia é contribuir para que os educadores / pais / responsáveis possam se orientar sobre uma a leitura mais adequada aos alunos / filhos. E também contribuir para o bel'prazer dos curiosos / livreiros que, como eu, torcem e ficam felizes quando aquele autor que você devota paixão é prestigiado.

Já que o mundo é "democrático", eu mesma não concordo sempre com a escolha de todos os livros. Mas acho interessantíssima a proposta, pois, apesar do caráter classificatório, a revista objetiva nos trazer os bons e mais amigos livros, dentre tantos lançamentos e possibilidades de leituras. Esse ano, vou te contar! Muitos claps, claps. Eu praticamente não fiz ressalvas a quase nenhum livro escolhido. E também não vi nenhuma grande injustiça na ausência de outros...

"Entre Nuvens", com o selo FNLIJ (assunto futuro, aqui no blog)
Abre um parêntese: lembrando uma coisinha que comentei aqui no início, o "ensejo" mencionado 'tá relacionado ao fato de que o André Neves está nessa listinha super especial, com TRÊS títulos: Entre Nuvens, pela BrinqueBook !!! Malvina, pela Editora DCL. !!! e TOM, da Ed. Projeto [veja meu texto anterior].

AEEEEEEEEE !!!
Fecha parênteses!

Da listinha de 2013, destaco primeiro duas edições de livros já "clássicos" para a turma dos pequenos. Lançado em '64, Ou isto ou aquilo 'tá de cara nova. Depois de um tempinho fora de catálogo, a Editora Global traz os cinquenta poemas da Cecília Meireles em capa dura, com design horizontal ('tá maior!) e com ilustrações do Odilon Moraes, que também é o responsável pela nova roupagem de A vida íntima de Laura (1974), publicada pela Rocco. Só coisa linda, gente. Duas queridas, Cecília e Clarice Lispector, sendo reeditadas. O mais bacana dessa edições é que, além de super bonitas na simplicidade, o novo formato do livro permite um abraço mais gostoso dos pequenos. As antigas edições tinham aquele padrão mais ou menos 16 x 23.
[novo formato: 24,5 x 24,5]
[ novo formato: 21 x 28 ]
Outro livro que não posso deixar de mencionar é Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo,  porque além da história ser linda, o tema está relacionado a livros, leitura e clássicos, sua publicação tem origem nesse curta de animação (super premiado!!!), que eu disponibilizo aqui embaixo... 
Importante ressaltar: trata-se de uma adaptação transgredindo a lógica do mercado (de que livros tornam-se filmes e não o inverso).

 
Trecho da sinopse do livro de William Joyce no site da Rocco : 
O solitário Modesto Máximo está na varanda escrevendo suas memórias. Vem um furacão. Ele perde tudo, menos as memórias. No furacão, uma moça voadora joga um livro sobre ele. Esse livro guia Modesto Máximo até uma biblioteca. Ele se torna dono da biblioteca. Cuida dos livros. Vai escrevendo o seu. Quando termina de escrever suas memórias, ele também adquire a capacidade de voar. Sai voando. Nesse momento, chega uma menininha. O livro de Modesto Máximo acaba no colo da menininha. Vai começar tudo de novo.
Pretendo fazer um texto especial para alguns livros. Por ora, restam alguns breves comentários sobre estes três.
Enfim, vale a pena dar uma fuçada no site da revista. As resenhas estão super de acordo e eles divulgam, inclusive, os preços dos livros e também uma sugestão de faixa-etária.